(2018) O Anjo Exterminador
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- Escrito por Marileide do Nascimento Assis
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Categoria: Filosofia e cinema
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Uma história enigmática que nos deixa muitas perguntas e dúvidas a respeito do que será exatamente que Luis Buñuel quis dizer em o Anjo Exterminador. Por que aquelas pessoas ricas? Por que aqueles pés de galinha? Por que todos os empregados vão embora? Por que aqueles cordeiros? Perguntas sem repostas? Não exatamente. Luis Buñuel deixa bem claro que sua crítica principal é direcionada à classe burguesa logo que exclui os empregados do cenário, fazendo com que todos saiam da mansão, ficando na casa apenas um mordomo junto com um grupo de pessoas ricas.
Ao chegarem de uma ópera, um grupo de pessoas é recepcionado em um jantar na mansão de um casal. Essas pessoas chegam muito bem vestidas, com roupas de gala, jóias e vocabulário afinado. O que acontece em seguida é que depois do jantar todos por algum motivo estranho, resolvem ficar naquela noite. No dia seguinte acabam ficando e por algum motivo estranho não conseguem passar da porta, algo que limita a volta para suas casas. Aquela estadia dentro de um único cômodo se estende por semanas, o que torna a convivência entre eles um verdadeiro caos e um desafio a ser enfrentado por cada um.
Um filme é rico em detalhes surreais e apresenta incógnitas para o espectador, como por exemplo, pés de galinha dentro da bolsa de uma mulher, um urso de estimação, cordeiros dentro da casa, sinais enigmáticos entre os homens. Tudo isso fica muito obscuro para nós, sem exatamente um sentido lógico para uma interpretação, mas o que será que o autor quis nos dizer? Há tanta ousadia e riqueza de informações que não podemos ter uma única conclusão sobre este filme, com uma crítica pesada à burguesia e aos valores cristãos com uma abordagem surrealista, ficamos cheio de dúvidas e perguntas.
Ao longo dos dias, confinados naquele cômodo, os ricos, com toda uma postura moldada no requinte e na classe (características da burguesia), vão se definhando e as capas das aparências começam a cair, deixando vir à tona uma realidade que foge dos seus costumes tradicionais.
Outra crítica direcionada é aos valores cristãos da igreja, onde cordeiros são sacrificados para que os burgueses se alimentem, o que remete ao preceito católico da remissão dos pecados cometidos, quando um animal é sacrificado no lugar do pecador. Isso para remeter aos pecados originais por eles cometidos como, por exemplo a anfitriã da casa que é casada e tem entre os convidados o seu amante e uma convidada que diz não ter nenhum sentimento sobre a morte dos pobres, mas se compadece com a morte de um príncipe.
Apontar uma única questão para entender “O Anjo Exterminador” não me parece algo provável a se pensar, pelo contrário, tudo nos leva a pensar filosoficamente. O ser humano e as questões sobre a vida, preconceitos e as barreiras que invisivelmente colocamos em determinadas situações. Entender que a ganância e o exacerbado sentimento de superioridade como vimos claramente nesses burgueses, é apenas uma capa que esconde suas verdadeiras faces.
Quando nos rendemos ao total prazer que o corpo deseja, como o poder, a riqueza e a paixão, nos encontramos em uma vida presa, como se a alma estivesse em uma prisão. Ao pensarmos tudo isso filosoficamente tomamos consciência de que vivemos em uma ignorância absoluta. A filosofia nos dá a capacidade de ter consciência e clareza. De certo modo, ela nos liberta e arrebenta as correntes que invisivelmente temos para com os desejos e as paixões.
Como Sócrates diz, “conheça a ti mesmo” e estará consciente da tua ignorância, assim poderá se libertar das correntes que te prendem. O ato de filosofar é a introspecção de pensar e se conhecer, nos tornando conscientes das ilusões para as quais o corpo e a alma se entregam.