(2018) O Anjo Exterminador
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- Escrito por Mateus Carneiro Costa
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Categoria: Filosofia e cinema
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O Anjo Exterminador (em espanhol: El ángel exterminador) é um filme mexicano de 1962 dirigido por Luis Buñuel. A história fala sobre um grupo de ditos amigos que festejam em um jantar. Pelo fim do jantar, aos poucos cada um dos empregados da casa vão se retirando, dos responsáveis pela limpeza que cuidavam dos cordeiros e do urso domesticado que habitavam a casa, até os cozinheiros que haviam terminado de preparar o jantar, cada qual com sua desculpa, mesmo sob pena de demissão. Apesar de críveis, a anfitriã se queixa para o mordomo, o único que ficou, como que se eles estivessem apenas fugindo.
Pouco depois do fim da janta, entre conversa e música, alguns dos convidados se despedem para ir, mas voltam, fosse para tomar um café ou para se assear. Por fim, se vêem na necessidade de permanecer onde estão, dormindo pela casa numa grande quebra de decoro, fato que o anfitrião crítica sem ser ouvido.
Na manhã seguinte, o pânico se instala: não conseguem sair. Isso é um caso curioso de suspensão de credulidade, uma vez que não demonstra uma lógica, mas apenas um fenômeno que pela história é claramente sem sentido, e ainda assim é pedido que encaremos pelos olhos dos personagens.
Após a situação instalada, é claro que há uma tentativa de compreender o que houve, assim como uma certa briga entre os presentes, tentando colocar a culpa de seu misterioso aprisionamento em alguém. Em meio ao caos existem esforços para manter a calma.
Então os convidados foram pouco a pouco perdendo a etiqueta e classe de que tanto se importavam antes: primeiro as roupas, depois o respeito mútuo, depois a falta de acesso à água e comida levou alguns a passarem mal ou morrererem. Neste último caso, o único que permaneceu controlado foi o mordomo, que vindo de uma vida bem mais simples se postou comendo papel, ato comum de seus anos de adolescente.
Neste meio tempo, a polícia notou a ausência dos convidados por fala de suas famílias, e mesmo a população rodeou o lugar, contudo ninguém passava sequer do portão principal. Não por alguma grade ou ordem da polícia, mas porque se viam incapazes de fazê-lo. Tentaram até enviar uma criança, que apenas correu de volta para a mãe, apesar das ordens enfáticas.
Conforme se desenvolveu a espiral do caos, o anfitrião revelou ao médico um estoque de drogas, capazes de aliviar a dor dos adoecidos, mas que causaram ainda mais desavença. Houve também um momento, já pelas últimas noites dormidas no filme, em que houve um tentativa de estupro, rapidamente silenciada pelo acordar de todos devido à reação imediata da mulher.
Por fim, já nos minutos finais do filme, conseguem por fim perfurar a parede e o encanamento, permitindo que bebam água. Vê-se ainda o urso de estimação deixando a casa, assustando aqueles que esperavam do lado de fora, mas salvo pelos antigos empregados da casa, que chegaram de última hora. Eles ainda são incapazes de explicar a situação para a polícia ou porque saíram da casa quando saíram.
Nesta mesma hora nossos personagens famintos encontram os cordeiros. A casa, já um pouco destruída, é desmontada para fazer madeira para uma fogueira que serviria para cozer a carne dos cordeiros. A fumaça prejudica a respiração de todos, mas a fome é maior. Ao perceber que apenas haviam avançado o inevitável, começam uma tentativa desesperada de refazer os atos da fatídica noite, como que para reverter a dita maldição. Até que por fim se vêem capazes de sair, disparando pela porta nunca trancada.
São recebidos pelo povo e pela polícia, que quando os veem saindo conseguem por fim entrar no jardim e mesmo na casa. Assolados por tal evento, vão todos para igreja, agradecer por sua libertação, e acabam presos na mesma da mesma forma.
Comentários:
Existem dois tipos principais de simbolismos neste filme. O primeiro se apresenta no aprisionamento e isolamento do mundo da festa da classe superior. Esta classe, sempre tão necessitada do trabalho dos outros para se manter no nível que tem, quando sem seu amparo, por si só em uma situação em que o dinheiro não importa, retorna a ser o que se espera de um dito “estado de natureza” da época: pessoas apenas tentando sobreviver, sem quaisquer atenção para etiqueta ou respeito.
O segundo simbolismo começa já no nome: O anjo exterminador. Junto disso, existem inúmeros quadros de santos, da virgem Maria e de Jesus, que definem um padrão de ser bom a ser seguido, que acaba por ser quebrado pelos habitantes da casa, mostrados como egoístas, cruéis e fracos em seu âmago, sendo sua prisão uma forma de punição.